30 de janeiro de 2011

As conchas da vida

O sol se levantava no horizonte, onde o mar e o céu têm o azul mais esplendido de toda a terra quando Jorge já saldava o novo dia com suas preces e agradecimentos a Yemanjá.

O menino caiçara de apenas doze anos com pele queimada pelo sol morava desde que nascera em um pequeno vilarejo a quilômetros da cidade mais próxima. Seus pais eram humildes, viviam com o sustento que o pai como pescador conseguia com a venda dos peixes na cidade e sua mãe produzia longas toalhas rendadas, pois era o legado que as mulheres de sua família lhe deixaram.

A vida podia ser simples, mas era cercada de alegria pelas famílias que ali moravam compartilhando as alegrias e as dores da vida. Nos dias festivos, São João ou São Cosme e Damião, a vila fica em uma festança só, de encher os olhos com a afetividade dos homens e mulheres de lá.

Para Jorge o seu dia era uma festa, logo pela manhã saia pela praia, enquanto seus amigos ainda estavam na cama para percorrer toda a baía colhendo o que chamava de flores do mar, as suas pequenas conchinhas. Chegava em casa com os bolsos cheios e sua mão logo dizia “Onde você vai guardar tanta conchinha, que idéia essa sua!”, mas Jorge pouco se incomodava, gostava tanto daquele imenso mar e das suas conchinhas que para ele eram como um presente do mundo para ele. Refazia em sua mente o caminho que ela tinha feito até chegar a suas mãos e qual o molusco que ali morou e a pérola que podia ali ter feito casa, almejava ter várias de todos os tipos.

Com o vento que suspirava em seu ouvido melodias e os pés afagados pelas ondas do mar, ele caminhava pela praia buscando encontrar a sua maior concha. Em sua modesta casa ele tinha uma caixa cheia de conchas que ele junta desde seus oito anos quando em um dia de descanso com seus pais a beira do mar encontrou uma ostra com uma pérola branquinha e lisinha que refletia os raios do sol.

Na escola aprendeu tudo sobre ostras, conchas e pérolas o que o deixou mais encantado pelas coisas do mar. Em alguns momentos Jorge chegava a sonhar com objetos construídos de conchas, até mesmo uma grande casa e para sua família.

Os anos já não eram os mesmos para as famílias do vilarejo, a pesca não era mais tão produtiva e as vendas dos bordados caiam ano após ano, sustentar a família tornou-se uma tarefa difícil. Os país de Jorge decidiram se mudar para cidade onde o seu trabalharia em uma construção e sua mãe seria doméstica, ele então iria para uma escola nova e passaria o dia em casa sem muitas coisas para fazer. Quando soube da notícia correu para o mar com quem quer dar um abraço no infinito, suas lágrimas salgadas se misturavam com o sal do mar.

Arrumou suas coisas com a tristeza no olhar, suas conchas iria levar todas e sua pérola ia consigo aonde for como um amuleto da sorte, agora pensava o que iria colecionar nessa nova vida.

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